sexta-feira, maio 11, 2007

A Igreja que ama a ditadura -do Blog SemQuorum




A Igreja que ama a ditadura
De vez em quando, mas sem perder a impertinente regularidade, a máscara da Igreja Católica cai e desvela o verdadeiro rosto de ignomínia em que se erige muita da sua doutrinária idiossincrasia (tão antagónica dos valores cristãos originais), através de clericais vozes (ir)responsáveis debitando os mais diversos dislates e asserções irreflectidas. O que vale é que «vozes de burro não chegam ao céu» e as correntes humanistas liquidaram a Inquisição, o poder hegemónico e a influência do prelado sediado no Vaticano. Mas há que ter cuidado, pois esta instituição não dorme de todo e o menor descuido pode ser fatal ao progresso civilizacional.

Desta vez, a autoria do disparate dá pelo nome de Fernando Sebastian Aguilar, o arcebispo de Pamplona, que considera que os partidos políticos de extrema-direita podem ser "dignos de consideração e apoiados", porque são "fiéis à doutrina social da Igreja". E remata com o exemplo da Falange, o partido fascista de Primo de Rivera, o mentor do ditador Francisco Franco.

Está tudo num documento datado de 17 de Março, agora divulgado e no qual o arcebispo espanhol chega mesmo a instigar ao voto nesses partidos, afirmando que os mesmos "têm um valor testemunhal que pode justificar um voto". Da minha parte, entendo que estes são exemplos inequívocos - e já os há de sobra! - do etnocentrismo, racismo, homofobia e xenofobia que contamina e polui a «doutrina social» desta profana e secular igreja. Sendo eu ateu - assumo o risco de o assumir! -, aqui deixo a promessa de que me converterei ao catolicismo quando o próximo arcebispo de Pamplona, para não dizer o Papa, for um preto estrangeiro (para não dizer gay ou mulher!)...

Para Fernando Aguilar, como para outras vaticanas eminências pardas, afinal nem todos somos iguais, pois uns serão filhos de Deus, mas outros são filhos da meretriz!

posted by SemQuorum

Ponham pára-raios nas torres sineiras


"Senhores priores, eu sei como vossas mercês, com o venerando Bispo de Roma à cabeça, trovejaram tão ferinamente contra o sufrágio universal, contra a liberdade de expressão, contra a liberdade de imprensa, contra a liberdade de ensino, contra a liberdade de manifestação, contra a igualdade perante a lei, contra a liberdade de culto, contra a República, contra o 25 de Abril, contra o divórcio, contra a pílula, contra o preservativo. Trovejar até seria o menos, porque lamentavelmente chego a pressentir em alguns dos vossos colegas um ressentimentozinho por já não ser permitido queimar gente ou denunciar gente para ser queimada. Se a divindade que vossas senhorias reverenciam existisse, existência que nunca foi provada e de que me permito, discreta mas firmemente, duvidar, decerto que o perfil da personagem, como vem às vezes relatada, não se compaginaria com certos comportamentos e certas vozearias dos seus subordinados."

- escritor Mário de Carvalho, in «Jornal de Letras», nº 951