sábado, fevereiro 21, 2009

A Campo das Letras tem de ser salva

Com preocupação e esperança


A Campo das Letras

merece ser salva





Como se calculará, pudesse este «post» contribuir para qualquer alarmismo injustificado ou especulativo e podem estar certos que nunca veria a luz do dia. A verdade porém é que não só «Cadeirão Voltaire» se referiu à situação crítica enfrentada pela editora Campo das Letras como o meu amigo Jorge Araújo, seu fundador, accionista principal e alma desta prestigiada editora fez declarações publicadas pelo Jornal de Negócios que confirmam a ameaça de encerramento, salvo aparecimento de um investidor que proporcione um aumento de capital da empresa no valor de um milhão de euros. Para não estar a escrever pior o que já foi melhor escrito por outros, como diz o blogue atrás referido, a Campo das Letras «não é propriamente uma editora artesanal com sede onde o diabo perdeu as botas e com um catálogo de autores da respectiva terra cujos livros interessam a meia dúzia de pessoas. Falamos de uma editora com um catálogo consolidado, onde constam autores nacionais e internacionais de inquestionável mérito, colecções específicas que colmatam falhas notórias da edição portuguesa (como o teatro ou o ensaio literário) e um catálogo infanto-juvenil que dificilmente teria dificuldade em vender ».
Apenas acrescentaria duas coisas: uma é que a Campo das Letras, pela valia, bom gosto e diversidade do seu amplo catálogo é uma editora cimeira e de referência no nosso país; e a segunda é que a Campo das Letras é um exemplar empreendimento nascido de um profundo e absorvente amor aos livros e à cultura como factores de humanismo, espírito crítico e cidadania activa.
Se a muitos de nós já doeu a venda, pelos vistos necessária, da Caminho ao grupo de Miguel Pais do Amaral, o que se anuncia sobre o risco que corre agora a Campo das Letras tem uma dimensão muito mais dramática que não é seguramente separável das negativas (mas pouco percepcionadas pela opinião pública) mudanças e evoluções nos campos da edição, da distribuição e do comércio livreiros em Portugal nos últimos anos, crescentemente condicionados e dominados pelos que vendem livros como poderiam ver salsichas em lata ou electrodomésticos.
Eu sei que não será consolação que chegue mas nem o pior e mais indesejável desfecho poderá apagar que, durante estes últimos anos, o Jorge Araújo foi um dos últimos «príncipes» da edição portuguesa e que ninguém poderá rasurar esse facto. Entretanto, para ele, para o Emídio Ribeiro e para todos os trabalhadores da empresa vão os meus fervorosos votos de que uma solução possa ser encontrada, com um abraço de solidariedade envolto em esperança.

Vitor Dias