sexta-feira, dezembro 10, 2010

Quem era Helena Maria 1937-2010

Quem era


HELENA MARIA 

(1937-2010)



Espontânea, senhora de enorme força vital sempre de alegre e sincera convivialidade, derretendo-se de ternura pelos seus familiares e amigos e por todas as crianças do mundo sensível ao sofrimento dos mais desprotegidos da Terra, solidária com as vítimas das múltiplas repressões que sofrem os humanos, enfrentando com destemor as adversidades, abraçou a causa nacionalista angolana em 1959quando se casou. Com 21 anos de idade, casada há cerca de três meses, vê o seu marido ser preso em Luanda pela polícia política portuguesa, a PIDE. Sem experiência política ela enfrenta com dignidade os esbirros e as chantagens.



Desde 1963 no exílio, participa na luta pela independência de Angola através de intensa actividade no Centro de Estudos Angolanos, em Argel, a partir de 1964, (documentação, feitura de manuais de formação política e escolares) e depois no Congo – Brazzaville, onde é também locutora na rádio do MPLA, a Voz de Angola Combatente, e dá aulas dos programas do ensino primário e secundário aos militantes. Em 1974, adere à tendência chamada Revolta Activa , que contestava os métodos autocráticos da presidência do MPLA.



No pós-independência de Angola, em Abril de 1976, o regime instalado no poder manda encarcerar vários elementos da Revolta Activa, conseguindo o seu marido esconder-se. A Lena aguenta estoicamente a ausência dos filhos, Mário Jorge e Tonica - que tinham ido visitar os avós a Portugal e receberam instruções para não voltar, dado o ambiente repressivo – e debate-se com a incerteza do paradeiro do marido. Nesses cerca de três anos de ausência do companheiro e filhos, enfrentou dignamente as mais variadas provocações. Em Janeiro de 1979, acompanha o marido, Adolfo Maria, que fora expulso do seu país e metido num avião para Portugal, para um novo exílio. Aí reconstroem o seu núcleo familiar e recomeçam a vida. Com a sua inteligência, energia e comunicabilidade, a Helena Maria impôs-se profissional e socialmente, tal como sempre o fizera. Há cerca de quatro anos que lutava estoicamente contra um cancro do pulmão, enfrentando sempre confiante cada batalha a travar nessa inexorável marcha de adiar a morte.



Esta mulher transmontana, natural de Chaves, singela, frontal e acolhedora - à maneira de ser da sua região de origem – tinha também o convívio fácil, exuberante e abrangente que caracteriza os angolanos com quem tanto fraternizou e lutou pela liberdade. Mas, há sobretudo a registar o seu carácter, muito próprio, que se manifestou nas mais diversas circunstâncias e lugares. Da Lena fica para todos nós a sua enorme força interior que generosamente transmitia, uma viva inteligência, uma constante curiosidade pelo saber, a sua grande sensibilidade, a sua jovialidade, a profusa ternura com que envolvia os seus familiares, amigos e companheiros de luta, a sua solicitude e disponibilidade para partilhar, para socorrer, para acarinhar, a sua coragem em enfrentar adversidades e sobreviver a provações, a sua dignidade, que sempre preservou.



Ficámos sem o seu magnífico sorriso que iluminava os rostos dos que a rodeavam, esse sorriso que tanto aquecia os nossos corações.



Adolfo Maria

Lisboa, 6 de Dezembro de 2010